A vida como valor de todos os valores

Marco A Pires de Oliveira
2 min readNov 28, 2023

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Todos nós, que a despeito das perspectivas, nos devotamos a tarefa de colocar uma criança no mundo e lhes damos cuidado e atenção, carinho e amor, somos co-participantes na produção de toda a riqueza que existe.

A riqueza emerge como efeito da existência socialmente organizada dos humanos. Desse modo, a força mais determinante para a produção da riqueza não participa das trocas monetárias. A força que dedicamos ao cuidado e proteção é a condição sem a qual não existem trocas e nem a profusão de riquezas que nos cercam.

A reprodução e o cuidado estão na origem de todas as relações humanas. Esse trabalho, feito majoritariamente pelas mulheres, não é objeto de remuneração. O trabalho de constituir a humanidade dos humanos consiste num valor que não tem preço. É o valor que dá valor a todos os demais valores.

Dinheiro é uma expressão simbólica da riqueza. Junto com um mercado de produção e consumo, a circulação ágil da moeda gera a partilha da riqueza que é sempre socialmente produzida. Nós ocultamos a origem solidária de todos os valores em nome de uma perversão: A representação passa a ocupar o lugar dos entes.

O dinheiro vale mais que o trabalho, que o produto e, finalmente, no capitalismo financeiro o dinheiro vale mais que a riqueza, no sentido em que a verdadeira riqueza é a vida.

O capital emula, numa fraude espúria, o ímpeto de reprodução da vida. Tal fraude precisa, para ser eficaz, ocultar o valor da vida.

Isso se faz na subjetividade de cada um que pauta sua existência na busca de uma representação que lhe dê acesso ao fruto do trabalho humano: o dinheiro. No plano social e político é preciso dar mostra constante de espetáculos de opressão dos interesses econômicos sobre as necessidades da vida.

O massacre de Israel sobre a população da Palestina consiste num desses arranjos do conluio entre poder econômico e político para expressar a superioridade dos interesses de acumulação do capital em relação às necessidades da reprodução e persistência da vida.

Nada há nada mais significativo do que matar mulheres e crianças para exterminar uma facção que está dificultando os acordos econômicos do imperialismo no Oriente Médio. O único Deus que está agindo nesse massacre é o dinheiro. Alá, Jeová e Jesus estão em segundo plano.

O fato de as mulheres fazerem o trabalho mais significativo e não serem pagas, adicionado ao fato de que a existência de seres humanos não seja parte do cálculo econômico, é evidência do lugar da vida na ordem econômica. Estamos nos deixando dominar por uma ideia que elaboramos, enquanto negligenciamos a vida em si mesma.

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